quarta-feira, 27 de abril de 2011

Na ocasião a Revista Sentidos entrevistou Ricardo Sander

Ricardo Sander
Ricardo - Antonio
Sentidos: O Brasil participa de eventos no exterior, como congressos ou encontros relacionados aos surdos?
Ricardo:
É claro, a FENEIS tem uma preocupação em estar sempre por dentro de tudo e se mostrar presente. O problema é que às vezes não se tem recursos pra se levar um intérprete. Eu mesmo já participei de alguns eventos fora do Brasil, mas através de recursos próprios. Mas sempre tem um surdo representando o Brasil, mesmo que não tenha intérprete.

Sentidos: E sem intérprete com o surdo se comunica, se a língua de sinais não é universal?
Ricardo: O surdo se comunica através do gestuno, uma forma de comunicação baseada em gestos parecidos com mímicas. O problema é que às vezes o surdo prefere não levar um intérprete porque ele não sabe inglês. O que adianta levar, pagar as despesas de um intérprete que não sabe inglês?

Sentidos: O gestuno então facilita a comunicação e interação entre os surdos estrangeiros?
Ricardo:
De certa forma sim, eles conseguem se comunicar um pouco, mas é igual a qualquer estrangeiro tentando aprender uma nova língua. Tentou-se criar o Esperanto, você já ouviu falar?

Sentidos : Não nunca, o que é?
Ricardo:
Esperanto foi uma idéia experimental criada por ouvintes, de uma língua falada que seria a língua universal, mas não sobreviveu porque não tem cultura. A língua deve estar respaldada em cultura, por isso a diferença entre Libras nos diversos estados do Brasil, é como dialeto.

Sentidos: Porque você acha que o tema interprete na igreja gerou tanta polêmica?
Ricardo:
Porque primeiramente o intérprete precisa se policiar, ter auto disciplina e ética acima de tudo. Se você é partidário de idéias políticas, filosóficas, diferentes das minhas, eu devo respeitar, devo ter o pensar crítico, mas nunca posso ser tendencioso. O que acontece com um intérprete religioso é que às vezes em nome da religião ele se recusa a falar de certos temas, o que acaba prejudicando o surdo que não tem nada a ver com a sua religião. O intérprete pode até ir contra as idéias, mas deve ficar imparcial, mesmo em situações difíceis.

Sentidos: Sentidos pelo seu trabalho tem contato com todas as deficiências e percebe que os surdos são os mais fechados, porque?
Ricardo:
Simplesmente pelo problema de comunicação, quando um ouvinte aprende libras essa idéia muda.

Sentidos: O que você acha que falta para o surdo conseguir o que precisa?
Ricardo:
O governo precisa aceitar a questão da importância de se entender e respeitar a língua de sinais; construir uma política educacional só para surdos; os profissionais, médicos, fonoaudiólogos sejam preparados e informados sobre a surdez. A responsabilidade dos pais de encaminhar o surdo o mais cedo possível aos centros e escolas especializadas em ensino da língua de sinais, pois só assim ele vai crescer num ambiente lingüístico correto, pois a criança precisa ter acesso a cultura surda o quanto antes para mais cedo se desenvolver.

Sentidos: Quantos surdos estão fazendo faculdade agora, você sabe?
Ricardo:
Na ULBRA, em Curitiba, até o 1º semestre de 2001, 48 surdos, de diferentes lugares do Brasil, porque lá tem um intérprete no vestibular o que facilita muito.

Sentidos: Então é muito forte essa faculdade?
Ricardo:
A igreja Luterana tem muita força lá e tem ajudado muito. A própria universidade tem o UNES (núcleo de estudos de surdos), e estão sempre articulados para lutar e conseguir o que precisam. Assim como a UFRGS, universidade do RS, tem o NUPPES, que também desenvolve trabalhos deste tipo.

Sentidos: O que você faz atualmente em conjunto com o surdo?
Ricardo:
Atuamente sou intérprete de informática e Pedagogia na ULBRA e quero sempre estar ligado ao mundo do surdo.

Sentidos: Muito obrigado pela entrevista.
Ricardo:
Eu que agradeço e vamos manter contato.

(Fonte Revista Sentidos - Inserida em: 22/3/2001 - Mercado - no link: "veja a entrevista que ele concedeu ao Sentidos")

Nenhum comentário:

Postar um comentário